Sonhar ainda é possível...
Um dia desses estava lendo um texto supostamente escrito pelo Zeca Baleiro, onde ele faz uma crítica às propagandas da atualidade e a ausência de alguns valores morais nas mesmas.
Aproveitando essa minha paixonite aguda por ele, resolvi registrar aqui a minha opinião sobre o assunto. Na verdade, isso tudo me remeteu a algumas lembranças; quero dizer, meu pai era publicitário; na faculdade, embora minhas aulas fossem de fotografia, tive contato com a publicidade (explicarei melhor isso no decorrer do texto), meu ex-namorado também fazia publicidade, mesmo contra a vontade. Logo, não pude fugir disso...
Sei que essas discussões geralmente não levam a nada, no entanto, achei que seria interessante colocar aqui algumas idéias, por mais inúteis que fossem.
Sim, a publicidade manipula as pessoas de uma tal maneira, fazendo com que elas se sintam infelizes caso não consumam determinado produto, por pior que seja. Os publicitários por sua vez, vendem um produto que provavelmente não usam, logo, podemos chamar tal situação de “propaganda enganosa”. O que de fato é mesmo!
(Nossa! Agora me lembrei de uma das tirinhas da Mafalda – Quino - onde está o Miguelito assistindo TV e ela pergunta: “-Oi, Miguelito! Coisa boa na TV?” e ele responde: “- Acabei de ligar...mas parece que se você passa desodorante, depois come salsichas e aí compra uma máquina de lavar roupas, só não é feliz se for muito idiota!”. Hahaha...sou fã da Mafalda!).
Não sou contra a propaganda. Mas seria interessante ter um pouco de ética, e é neste ponto que concordo com as idéias expostas no texto do Zeca. Claro que existem propagandas boas, mas parecem tão escassas que passam quase despercebidas pela maioria das pessoas. Como escrevi anteriormente, meu pai era publicitário, mas nunca o vi fazendo nada de mau gosto. Não estou defendendo. Apenas nunca o vi fazendo uma propaganda, incitando pessoas a perderem alguns valores (como a propaganda de Dia dos Pais do shopping Iguatemi, citada por Zeca em seu texto, onde há a cena de um pai sorridente, com gel de barba no rosto e uma menininha de uns 6 ou 8 anos ao seu lado, com ar de família aristocrática londrina, risinho faceiro entre o angelical e o satânico. E no pé da página, um slogan do tipo: “Você vai herdar tudo dele mesmo, então é bom caprichar no presente...”. Muuuito bizarro!! ),simplesmente para vender um determinado produto. Talvez por isso, ele não tenha feito um sucesso estrondoso em sua área, mesmo sendo um ótimo profissional...
Na faculdade, tive aulas de fotografia. Uma das melhores disciplinas que eu poderia ter tido. E nessa época, fui apresentada ao trabalho de um cara que admiro bastante “Oliviero Toscani”, fotógrafo italiano, ex-publicitário da Benetton. Que inclusive, escreveu um livro denominado “A publicidade é um cadáver que nos sorri” (com esse título, creio que eu não precise fazer mais nenhum comentário).
Em suas campanhas, ele chocou muita gente, ao abordar temas até então, encobertos pela maioria, como o racismo, a AIDS, diversidade sexual, guerra, religião, entre outros. Lembro de ter assistido um“Roda Viva” com ele, onde os entrevistadores, indignados com seus trabalhos, chegaram ao cúmulo de perguntar se Oliviero era uma pessoa “feliz”. Achei engraçado; primeiro, porque os entrevistadores representavam grandes veículos de comunicação do país (nosso país!!). Depois, porque parece que mostrar bundas, mulheres semi-nuas e crianças interesseiras em uma propaganda, é perfeitamente normal, enquanto, vender um produto, utilizando “imagens” (de bom gosto) da guerra ou assuntos polêmicos, que as pessoas fingem não enxergar, soa, no mínimo como um abuso por parte de Toscani.
Há quem conteste meu ponto de vista. Eu, realmente acho que o cara é um gênio. Para o bem ou para o mal, suas campanhas contestaram muitas coisas e de alguma forma, mexeu com as pessoas. Acho que prefiro ver uma propaganda com a imagem de duas crianças, uma branca e outra negra, de mãos dadas (carregada de significados), a ver mulheres de biquíni, rebolando com um copo de cerveja na mão. Gosto daquela imagem inocente, beirando o puro, o poético. Fico pensando que talvez seja mais difícil fazer propagandas deste tipo, pois, é necessário estimular as pessoas a pensarem, muitas vezes, de uma outra maneira, sob outros pontos de vista (no caso de Toscani, era necessário estar atualizado ou pelo menos, entender um pouco sobre política, conflitos religiosos, etc). Convenhamos, é muito mais cômodo (e rentável) trabalhar com “fórmulas prontas”, que criar novos caminhos (estou chegando à conclusão que essa teoria funciona em muitos outros aspectos também). Sei que devo conhecer os caminhos trilhados, porém, espero sinceramente, abrir e caminhar pelos novos, de outras maneiras, sob um novo olhar...sempre!
Acho que fazer propaganda de um produto, que não é tão bom, que o publicitário jamais usaria - justamente por não acreditar na idéia que ele próprio vende – simplesmente pela renda que ele gerará, é no mínimo frustrante; porém, eu até entendo e respeito (embora, não concorde), afinal, “são ossos do ofício”. Agora, acho demais aceitar calada, os meios utilizados atualmente para chegar ao resultado desejado (ultimamente, creio que devido à grande concorrência, o nível das propagandas anda tão baixo, tão baixo, que está beirando o absurdo! Parece que qualquer coisa serve, desde que faça o povo consumir sempre mais. E ninguém parece perceber!!).
É uma pena que isso ocorra com tanta freqüência! Como reverter tudo isso? Ainda existe uma esperança? Cadê os valores?
Bom, ainda posso sonhar...
Se quiser ler o texto escrito pelo Zeca, acesse: www.uol.com.br/zecabaleiro/
By Priscilla Oliveira
1 comment:
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